O que realmente importa no fim da vida – BJ Miller – TED 2015

You are currently viewing O que realmente importa no fim da vida – BJ Miller – TED 2015

O Dharma ensina que só existe o momento presente — o passado já passou, o futuro ainda não chegou — e que a atenção plena (sati) nos traz ao agora, onde o verdadeiro cuidado acontece. No fim da vida, isso se traduz em presença inteira: ouvir sem pressa, tocar com atenção e oferecer pequenos confortos sensoriais, porque é nesse instante que se dá o alívio, o sentido e a conexão.

Vídeo do Zen Hospice Project Volunteers

O que você estava fazendo há 10 anos atrás?

Em 2015, eu fui o vencedor de uma competição de projetos de educação com a ideia da Konfide Geeks – Escola Online de Programação e Robótica para Crianças. BJ Miller estava fazendo a palestra “O que realmente importa no fim da vida” que acabei de assistir e me emocionar.

Um dia, todos nós estaremos nos últimos dias das nossas vidas e como você gostaria que sejam estes dias? Com sofrimento ou com CONFORTO? Nesta conversa serena, mas PODEROSA, BJ Miller traz uma visão de como os CUIDADOS PALIATIVOS podem ser REDESENHADOS para transformar os últimos dias da VIDA em uma CELEBRAÇÃO.

Há muitos anos, assisti a palestra de Ana Cláudia Arantes sobre Arrependimento e também me emocionei.

BJ Miller ressignificou os cuidados paliativos ao mostrar que o fim da vida não precisa ser apenas dor e perda, mas pode se tornar um espaço de presença, dignidade e até celebração. Inspirado por sua própria experiência de quase morte e pela filosofia budista, ele defende um cuidado que valoriza o momento presente, os pequenos prazeres sensoriais, a estética dos ambientes e a conexão humana, ajudando pacientes e famílias a encontrarem sentido e beleza mesmo na fase final da existência.

Quem é BJ Miller

BJ Miller, médico paliativista que vivenciou a própria quase-morte, argumenta que o sistema de saúde moderno foi projetado para doença, não para pessoas. Ele propõe um redesign que coloque o bem-estar humano — conforto, sentido e beleza — no centro do cuidado ao fim da vida. Em vez de anestesiar a experiência com procedimentos e corredores frios, Miller defende cuidar dos sentidos, da dignidade e do significado, distinguindo sofrimento necessário (o que faz parte da vida e da cura humana) do sofrimento inventado pelo sistema e, portanto, removível.

Ideias centrais da palestra

  • Distinção crucial: sofrimento necessário (existencial, reunidor entre cuidador e cuidado) × sofrimento desnecessário (causado por um sistema mal projetado). Devemos aliviar o segundo.
  • Redesign usando design thinking: convidar arquitetura, arte, culinária, música e estética para reimaginar como morremos — assim como necessidades deram origem à culinária, arquitetura e moda, a morte pode originar práticas criativas e belas.
  • Cuidar dos sentidos e da experiência: pequenas intervenções sensoriais (uma bola de neve trazida numa unidade de queimados; biscoitos assados na cozinha do hospice; o cachorro aos pés da cama) recuperam humanidade e significado.
  • Foco no bem-estar — não só na redução do pior: transformar o objetivo do cuidado para “tornar a vida maravilhosa” nos seus últimos momentos, não apenas “tornar a morte menos horrível”.
  • Práticas simples e humanas importam: rituais (pétalas no jardim ao levar o corpo), permitir desejos dos pacientes (um último passeio, um cigarro, a presença do animal de estimação) e a escuta atenta.

Três diretrizes de design que Miller propõe

  1. Eliminar sofrimento inventado pelo sistema — revisar práticas e rotinas que aumentam dor e isolamento sem benefício real.
  2. Colocar estética e os sentidos no cuidado — usar música, comida, toque, visão e ambiente como intervenções terapêuticas.
  3. Mudar o foco para o bem-estar — priorizar decisões que aumentem a qualidade de vida e o sentido, não somente tratamentos técnicos.

Exemplos concretos (do discurso)

  • A bola de neve trazida para ele numa unidade de queimados: um gesto pequeno que lhe devolveu a sensação de pertencimento ao mundo.
  • Frank, paciente que decidiu descer o Rio Colorado enquanto podia — ilustra: apoio e perspectiva permitem escolhas de vida significativas no fim.
  • Cozinha do Zen Hospice: assar biscoitos como intervenção sensorial poderosa para residentes, mesmo com pouca ingestão; a sensação importa.
  • Ritual de despedida no jardim com pétalas e histórias, contrastando com a pressa e a esterilidade dos hospitais.

Mensagem final / tom

Miller pede imaginação: não para negar a dor ou prometer cura, mas para abrir espaço — físico e psíquico — para que a vida que resta seja viva, bela e humana.

“Deixe a morte ser o que nos leva, não a falta de imaginação.”

BJ Miller

Como usar essa ideia (3 ações práticas)

  • Em hospitais, criar pequenas intervenções sensoriais (música, cheiros, objetos pessoais, plantas) nos quartos de fim de vida.
  • Em cuidados domiciliares, priorizar desejos pessoais (visitas, passeios, presença de animal) em vez de procedimentos inúteis.
  • Em políticas e formação, incluir design centrado no ser humano e educação sobre paliativos que ensinem a distinguir sofrimento necessário e evitável.

Biografia de BJ Miller

BJ Miller (Bruce J. “BJ” Miller) é um médico norte-americano, autor e palestrante reconhecido por seu trabalho em hospice e cuidados paliativos, e por levar uma visão humanista sobre morrer e cuidar no final da vida. Ele ganhou grande visibilidade com a palestra TED “What really matters at the end of life” (2015). Wikipedia+1

Sua trajetória pessoal marcou profundamente sua carreira: aos 19 anos, quando era estudante em Princeton, sofreu uma forte eletrocussão que lhe custou múltiplos membros (tornozelos/pernas e um antebraço), deixando-o como triplo amputado. Essa experiência de paciente e de reabilitação influenciou sua sensibilidade clínica e sua escolha por trabalhar com o morrer de forma mais humana. paw.princeton.edu+1

Na carreira profissional, Miller atuou por anos no Zen Hospice Project (onde também foi diretor executivo) e faz parte do corpo docente da UCSF School of Medicine; mais recentemente cofundou a Mettle Health, serviço de telehealth para pacientes e cuidadores. Ele também é autor — entre suas obras está A Beginner’s Guide to the End (2019) — e foi figura central do curta-documentário indicado ao Oscar End Game. Esses papéis mostram sua atuação como clínico, educador e defensor de políticas e práticas que colocam o bem-estar humano no centro do cuidado. Wikipedia+2zencare.org+2

Tematicamente, Miller combina experiência clínica com interesse em design, estética e experiência sensorial no cuidado, defendendo que ambientes, rituais e pequenas intervenções podem reduzir sofrimentos evitáveis e devolver dignidade e sentido aos momentos finais da vida — ideias que tornaram sua voz influente em medicina paliativa, educação e debates públicos sobre morte digna. TED-Ed+1

O que é o Zen Hospice / Zen Caregiving Project

É uma organização sem fins lucrativos de São Francisco, originada no ambiente do San Francisco Zen Center, que desenvolveu um modelo de cuidados paliativos centrado na presença, na compaixão e no cuidado sensorial/estético — valorizando rituais, voluntariado treinado e intervenções que preservem a dignidade e o sentido nos últimos dias das pessoas. Seu foco histórico incluiu um Guest House residencial, programas de voluntariado hospitalar e cursos de formação para cuidadores (o chamado Mindful Caregiver). Zen Caregiving Project+1

Linha do tempo (marcos principais)

  • 1986–1987 — Fundação / origem
    O projeto nasce em meados dos anos 1980 como uma resposta da comunidade Zen de São Francisco a pessoas doentes e sem abrigo que morriam na rua; nomes ligados à origem incluem Martha deBarros e Frank Ostaseski, entre outros do San Francisco Zen Center. Zen Caregiving Project+1
  • Final dos anos 1980 / 1990 — Abertura do Guest House
    Nasceu um Guest House (uma casa vitoriana em Page Street) que passou a oferecer cuidados residenciais 24h num modelo íntimo e ritualizado — o espaço tornou-se referência internacional pelo jeito humano e sensorial de acompanhar o morrer. (O Guest House oficialmente abriu no início dos anos 1990.) Medium
  • Décadas seguintes — Expansão de programas e ensino
    Além do serviço residencial, o projeto ampliou a atuação: voluntariado na enfermaria de paliativos do Laguna Honda Hospital, cursos de formação para familiares e profissionais e influência na área de cuidados paliativos ao redor do mundo. O trabalho formativo (Mindful Caregiver) e a ênfase em práticas contemplativas viraram parte central da missão. KQED+1
  • Junho–Outubro de 2018 — Encerramento/suspensão do Guest House e venda
    Frente a desafios financeiros e mudanças nas parcerias de reembolso, o Guest House encerrou serviços residenciais em meados de 2018; a organização suspendeu atividades na casa e, mais tarde, vendeu o imóvel para criar um fundo operacional e seguir oferecendo programas por outras vias. Mesmo assim, manteve voluntariado no Laguna Honda e os cursos. Zen Caregiving Project+1
  • 2019 — Reposicionamento público como “Zen Caregiving Project”
    Em 2019 a organização adotou o nome público Zen Caregiving Project (mantendo legalmente Zen Hospice Project) para refletir melhor a amplitude do trabalho: educação de cuidadores, consultoria e apoio além do cuidado residencial. PrWeb+1

Pessoas e legado

  • Frank Ostaseski foi figura chave como fundador/teacher e influenciador do modelo contemplativo de atenção ao morrer; ele também fundou o Metta Institute para treinar profissionais. Wikipedia
  • BJ Miller (entre outros líderes) esteve ligado ao projeto como diretor/executivo e divulgou amplamente a abordagem humanista em palestras e publicações. Aspen Ideas Festival

Por que importa hoje

O Zen Hospice/Caregiving Project mostrou que é possível integrar práticas contemplativas, rituais simples, sensorialidade (comida, música, toque), voluntariado profundo e formação em cuidados paliativos para transformar a experiência do morrer — influência que atravessa hospitais, cursos e iniciativas de cuidado comunitário no mundo todo. Mesmo após a perda da casa-residência, a organização redirecionou esforços para formar cuidadores e manter voluntariado em instituições, mantendo vivo o legado do modelo.

Deixe um comentário