Sempre ouvi minha mãe falar mottainai quando a gente deixava sobrar comida no prato. Eu acreditava que mottainai significava apenas desperdício, mas descobri que, segundo o budismo, “mottai” significa essência das coisas e “nai” indica negação na língua japonesa. Uma amiga me ensinou que mottainai também pode ser interpretado como “você não é merecedor”.
No caso da comida, quando a jogamos fora, não estamos honrando as pessoas que trabalharam para que ela chegasse até a nossa mesa: quem plantou, quem colheu, quem transportou, quem cozinhou e quem nos serviu.
E a nossa vida, como estamos vivendo? Seja qual for a sua crença, será que Deus, Buda, Alá, Shiva ou Jesus diriam mottainai para nós? Para minha mãe, Dona Mineco Hirai Okabe, com certeza diriam mottai sim. Até hoje, ela ainda corta os guardanapos ao meio para respeitar todos que produziram o papel.
Em seu livro Em Busca de Sentido, Viktor Frankl narra suas experiências nos campos de concentração e mostra que as pessoas que tinham um propósito muito firme conseguiam resistir às mais duras provas. Somos todos uma pequena poeira estelar que ousa se reencontrar nesta breve passagem que chamamos de vida e cujo fim todos sabemos: nossa passagem de volta.
Bronnie Ware, enfermeira australiana, escreveu o livro Os Cinco Maiores Arrependimentos, no qual relata suas experiências com cuidados paliativos a doentes terminais. São eles:
- Gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a que os outros esperavam de mim.
- Gostaria de não ter trabalhado tanto.
- Gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos.
- Gostaria de ter mantido contato com os meus amigos.
- Gostaria de ter me permitido ser mais feliz.
Minha mãe é uma das poucas pessoas que conheço que não consigo imaginar tendo esses arrependimentos. Na verdade, todos temos arrependimentos na vida, mas devemos encará-los como mensageiros da mudança — para aprendermos a encerrar ciclos e abrir novos caminhos.
Que este encontro seja uma celebração da vida: a vida que nossos pais nos deram, a vida que nossos antepassados nos legaram e a vida no aqui e agora. Que possamos praticar o Motai-Sin, valorizando cada encontro e cada pessoa como únicos, e viver o que Jesus já nos ensinou: amar, perdoar e agradecer o pão nosso de cada dia.
Agradeço, em nome de todos os irmãos, à nossa mãe, por ser este exemplo de força com gentileza, e ao nosso pai, por ser exemplo de força e determinação.
Em nome da minha mãe, agradeço a todos os presentes
Amém.