O papel do Japão e dos japoneses para o mundo

Escrevo este artigo, pois é parte de um programa de seleção para uma viagem ao Japão em janeiro/2017.

“O governo japonês oferece, por meio deste Consulado Geral, o programa de visita ao Japão para descendentes de japoneses com o objetivo de aumentar a compreensão sobre a atualidade do Japão e as políticas do país. Os participantes do programa deverão se comprometer em divulgar eficazmente os aspectos da atualidade, assim como a política do país em suas respectivas comunidades após o retorno. “

Me identiquei completamente com a proposta e espero que gostem do artigo.

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Sou neto de japonês e nasci na Bahia, portanto sou uma combinação de duas culturas muito diferentes. A cultura japonesa tem a disciplina e o respeito à comunidade e aos mais velhos como base, enquanto a cultura baiana é uma mistura de vários povos. A cultura baiana tem a alegria e espontaneidade como marcas, bem como a valorização da religião. A música e o carnaval são grandes ícones da cultura baiana.

Confesso que não sou um seguidor da cultura japonesa, mas sei que grande parte do que sou tem a a cultura japonesa como base. Meus avós vieram do Japão e meus pais nasceram no interior de São Paulo.

familia-okabe Meu pai formou-se em geologia na USP e se aposentou após 51 anos de dedicação para Petrobras. É uma pena que tenha sido em meio a tantos problemas com corrupção. Meu pai é um grande exemplo de disciplina, perseverança e integridade. Lembro das aulas de datilografia “forçadas”, mas hoje tenho gratidão porque esta habilidade me ajuda muito no trabalho.

A minha mãe é professora e lembro que ela ensinava os filhos das empregadas. Ela e paisagista autodidata e apaixonada por plantas. Há mais de 15 anos, ela cuida voluntariamente de uma praça em Salvador. Ela me ensinou a fazer Origami que se tornou uma das minhas marcas registradas.

Ela é um exemplo de solidariedade, confiança e amor ao próximo.

Como neto de japonês, o tema da redação me inspirou a refletir que a cultura japonesa poderá ajudar a criarmos um mundo melhor para as futuras gerações.

Superação

A maneira como os japoneses superaram o grande desastre dos tsunamis com espírito de comunidade e ética é algo que deve ser compartilhado com o mundo. Em países ocidentais que enfrentaram desastres naturais, os saques a lojas são fatos comuns. Uma história que escutei e achei marcante foi sobre uma senhora que morou no Japão na época dos tsunamis e ela conta que nos supermercados cada pessoa pegava apenas 1 garrafa de água, pois todos tem um espírito de comunidade muito forte.

Temos muitos a aprender com a cultura japonesa que valoriza a comunidade, pois vivemos uma transição da economia do consumo para uma economia do compartilhamento.

O Japão industrial dos produtos de alta qualidade que ficaram famosos por “copiarem” e superarem os outros países não é mais sustentável com o poderio da China. Porém, a integração dos valores japoneses de ética, integridade e comunidade podem ser a chave para ajudar muitos países que não sabem como criar comunidades colaborativas e de aprendizagem.

Arte

O Japão também é famoso por sua arte que valorizam a beleza, a simplicidade e a elegência. Os jardins japoneses, a ikebana e o origami são símbolos da arte japonesa. Uma das habilidades que mais me orgulho é o origami. AMO fazer origami e é um arte que conecta as pessoas que se abrem para a conversa a partir de um “simples” origami. Em um mundo tão conectado e saturado de informações, voltarmos a valorizar o SIMPLES e o BELO é fundamental para buscar a conexão com o EU INTERIOR.

Recentemente, vivenciei um momento que tinha tudo para ser triste, mas que terminou de uma forma completamente diferente.

origami-hospitaisEstava em Belo Horizonte para participar de um evento de startups e meu colega de quarto passou mal. Levamos ele para o hospital público, pois ele não tinha plano de saúde. Ele foi medicado, mas teríamos que esperar de 30 a 40 minutos em uma enfermaria repleta e com um clima muito pesado.

Lembrei que estava escrevendo este artigo e pensei “O que eu posso fazer para ajudar as pessoas a terem uma noite menos triste?”.

Pedi um papel para enfermeira e comecei a fazer pavões de origami e dar de presente para as enfermeiras, médicos e pacientes. Fiquei feliz em perceber a alegria no rosto das pessoas.

Este fato aconteceu no dia 10/novembro, um dia antes do Dia do Origami que é dia 11/novembro e é comemorado para celebrar o fim da Primeira Guerra Mundial. O “tsuru” (cegonha) é considerado um símbolo da paz.

“Não tem como falar do origami tsuru e não se lembrar da história de Sadako Sassaki, uma menina de 12 anos que foi vítima da Doença da Bomba Atômica, a leucemia. Sadako queria dobrar mil tsurus, na tentativa de ter o seu pedido atendido, isto é, ser curada da sua doença. Infelizmente, ela morreu antes de dobrar os mil tsurus, mas sua história ganhou asas e hoje é conhecida mundialmente.” Fonte: http://www.japaoemfoco.com/origem-do-origami-significado

Festas e alegria

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O Japão também tem seu lado alegre e lúdico. O Cosplay que é a prática de se disfarçar de personagens de desenhos ou filmes não foi inventado no Japão, porém com o sucesso dos animes o cosplay do Japão se tornou um dos mais populares do mundo. Fui levar meu filho no Anime Friends em São Paulo e fiquei admirado com a alegria e descontração dos grupos. Notei a alegria dos cosplayers mais bem caracterizados quando eram as pessoas pediam para tirar fotos junto com eles.

Na foto, os 3 cosplayers estão representando personagens do anime Naruto que é um dos personagens mais famosos.

Os japoneses gostam de se reunir e uma das festas mais tradicionais do Japão é o Bon Odori.

“Bon Odori (em japonês: em japonês O-bon [お盆] ou simplesmente Bon [盆]) é um festival que ocorre anualmente durante o verão (entre julho e agosto, no Japão)”

Fonte: http://www.anisa.com.br/bon-odori

Em Salvador, o Bon Odori é uma das maiores festas e faz parte do calendário local. Sendo conhecido como “Festival da Cultura Japonesa”.

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Respeito aos antepassados e gratidão

Os japoneses têm grande respeito pelos antepassados e a prática da gratidão. Muitas famílias que seguem a tradição, possuem o Butsudan (佛坛 ou 仏坛) significa literalmente “Altar do Buda” que é uma caixa de madeira na qual os antepassados são lembrados através de pequenas oferendas. As oferendas podem ser arroz, frutas e outros tipos de comidas.

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Neste link, você poderá conhecer mais sobre o butsudan.
http://www.japaoemfoco.com/santuarios-japoneses-butsudan-e-kamidana/

O ocidente dá muito valor ao dinheiro e às conquistas materiais. Com isso, nossa sociedade perdeu o rumo dos valores e é comum colocar a CULPA nos outros. Em muitos casos, colocamos a culpa dos nossos fracassos em nossos pais. A prática da gratidão é uma das maneiras de ser feliz, pois nos faz compreender que as pessoas sempre fazem o melhor que podem. Mesmo situações que podem parecer incompreensíveis como uma mãe bater no filho ou um marido bater na esposa, mostram que foi a forma como aprenderam a expressar seus sentimentos.

A prática do respeito aos antepassados é uma forma de agradecer o esforço feito em vida para as pessoas que amamos.

Uma coisa comum para qualquer pessoa no mundo é a busca da FELICIDADE e a prática da GRATIDÃO é uma das melhores formas de ser feliz.

Sincronicidades e simplicidade

A arte japonesa como origami, jardins japoneses, ikebana, sumiê, cerimônia do chá e diversos outros exemplos mostram como o japonês valoriza a beleza na simplicidade das coisas e nas suas imperfeições.

“Wabi Sabi (わびさび)? O Wabi-sabi tem origem no Zen Budismo e está relacionado à imperfeição, um conceito totalmente contrário ao que geralmente buscamos em nossa vida. Na realidade, trata-se de uma filosofia onde aprendemos a ver a beleza mesmo nas coisas imperfeitas, impermanentes e incompletas.” Fonte: Japão em Foco

Ontem, fui ao SESC Vila Mariana e por “acaso” encontrei o José Bueno que é mestre em Aikidô e foi meu professor em 2000. Ele é idealizador do projeto Rios Descobertos e está com uma exposição interativa LINDA no Sesc Vila Mariana.

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Gosto muito desta imagem de Sumiê que é uma arte de pintura praticada pelo Bueno Sensei.

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“A imagem de uma ponte conectando as margens distantes de um rio é sua metáfora preferida e o modo como costuma se apresentar: um faixa-preta em criar pontes.”
Fonte: https://institutoharmonia.wordpress.com/o-instituto/jose-bueno

O Aikidô é uma arte marcial que nasceu no Japão e tem como princípio o controle do fluxo de energia do oponente, ao invés do confronto. Por esta razão, o Aikidô é uma metáfora para diversas situações da vida. A água e o Aikidô possuem uma grande sinergia, pois a água sabe se desviar dos obstáculos.

Simplicidade

Acredito que o Japão pode ajudar o mundo a compreender que podemos ser felizes com menos bens materiais se aprendermos a valorizar o SIMPLES.

“A simplicidade é o último grau de sofisticação “ Leonardo da Vinci

Sincronicidades e agradecimentos

Quero expressar minha gratidão a algumas pessoas que me ajudaram a chegar até aqui. A minha amiga Harumi Sameshima que me enviou o e-mail sobre o programa de visitas ao Japão; aos meus pais que através de exemplos de vida me tornaram a pessoa que sou hoje; a minha esposa que tem a paciência de aguentar este ser empreendedor e sonhador, mesmo não concordando com muitas ideias e, principalmente, a meus filhos que são a grande inspiração e motivação para eu buscar formas de ajudar o Brasil e o mundo.

Se cair sete vezes, levante oito (Nanakorobi Yaoki)

Nanakorobi Yaoki significa algo como: Se eu cair 7 vezes, 8 vezes eu me levanto! Este ditado japonês reflete a minha vida, pois fracassei ao tentar montar agências digitais pensando no dinheiro e no reconhecimento. Ao me reconectar com minha essência, descobri meus reais talentos e minha missão de vida.

Que esta seja o principal papel do Japão e dos japoneses para o mundo. Mostrar que podemos superar qualquer crise com paciência, determinação e simplicidade.

Referências:

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